segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Só por hoje, eu não consegui


Hoje resolvi me livrar de coisas aborrecidas. Acordei disposta a esquecer e me fazer de novo. Experimentar-me de um modo diferente.

Não quero pensar nas contas, no trabalho, nas provas da faculdade. Resolvi ligar qualquer música num volume que me faça bem, num volume que o mundo (talvez) escute.

Livrei-me do café pela manhã, por algo mais leve. Dei um tempo pra minha cabeça, e de certo modo pro meu coração. Livrei-me dos assuntos que te cercam e que sem querer me aborrecem. Esqueci (na medida do possível) que você existe e que suas atitudes, muitas vezes (ou sempre) me aborrecem.

Apaguei o que eu mesma dizia sobre mim, mas que não era eu. Eu dizia apenas pra agradar. Apaguei fotos que julguei serem apenas minhas, do meu interesse. Li textos que me fazem bem e inspiram. Escrevi. Dancei. Cantei. Não, não chorei, porque chorar borra a maquiagem, incha os olhos e dá dor de cabeça. E tudo isso me aborrece.

A questão de hoje não é ser extremamente feliz (porque não me sinto assim hoje), é apenas me livrar de coisas que pioram meu estado, que me aborrecem , que me azedam.

Li cartas antigas, relembrei amigos, pensei no futuro. Saudosismo não aborrece, mas faz sorrir (mas tem que se relembrar de coisas boas, claro!). Procurei pela internet o que me fizesse rir e pensar.

Quando meus olhos cansaram da tela, busquei olhar em minha volta e aquela chuva vinha ao longe, rodeava a cidade e prenunciava algumas trovoadas. Sabe aquelas nuvens de um azul forte (quase roxo) e que dão certo medo e que nos dizem: não se esqueça de levar o guarda-chuva? É exatamente essa chuva que via pela minha janela. Lá no horizonte... Tão longe e de certo modo ao alcance das minhas mãos.

E lembrei-me de você. Droga! Não era isso que eu queria. Passei o dia todo lutando contra e agora, só por causa da chuva, ou melhor, do beijo na chuva, me lembrei de você.

Saio da janela e procuro um livro. E por idiota (é essa a palavra mais certa) pego justamente aquele livro, Eu sei que vou te amar de Arnaldo Jabor, com aquela capa que sugere mais do que minha mente podia pensar naquele momento. E isso porque não queria me aborrecer, mas era o qual, pelo número de páginas, me faria pensar menos em você.

(Re)Leio aquela história e me pego justamente naquela parte que um dia lhe dediquei: “você é um ponto de interrogação, uma janela aberta para o ar, um copo de veneno, você é meu medo” e relembro, conseqüentemente, da explicação que lhe dei, principalmente sobre o veneno. “Veneno mata, mas quem disse que eles não podem ser doces e deliciosos antes?” E me pus a pensar exatamente nisso, nos venenos da minha vida. Os doces, os amargos, os mais fortes, os mais fracos...

De todos, você continua sendo meu pior veneno. Doce ao sentir, perigoso ao ser absorvido. Um veneno que me tira o ar, faz meu coração palpitar, me faz deixar de sentir as pernas, que me desorienta, me entontece.

Um veneno que já me tomou por completo. De repente, a música, a nossa música toca. Escuto e fico pensando se tudo o que ela diz é verdade. Penso se é realmente isso que você sente, agora, depois de olhar nos meus olhos. E me aborreço, por exatamente não saber, por sentir saudades, por ter ido ao seu encontro...

Tudo isso parece ter mudado... Mudou o que eu tanto gostava e não dizia. Não conseguia dizer. Hoje eu não queria coisas aborrecidas, queria desejos, sonhos e malícia. O que tínhamos no começo. E bebo mais do meu veneno. Me entorpeço, me mato. Não me reconheço mais.

Morro por sua causa, por essa saudade que me aperta o peito. Tenho um veneno altamente destruidor em mim: a paixão, com uma boa dose de saudade, brindados com os olhos mais lindos que já vi.

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