quinta-feira, 18 de outubro de 2012
Leve
sábado, 6 de outubro de 2012
Feito que chega?
quarta-feira, 19 de setembro de 2012
O perfeito nem sempre é a melhor escolha
terça-feira, 7 de agosto de 2012
Singelo
terça-feira, 12 de junho de 2012
O dia dos (sem) namorados – versão 2012
*Foto antiga, taça vazia, mas mesmo assim um brinde a esse dia dos namorados... e que venham muitos dias assim ainda! (rs)
sábado, 9 de junho de 2012
Companhia
domingo, 3 de junho de 2012
Culpa?
domingo, 20 de maio de 2012
Eu menti...
quarta-feira, 4 de abril de 2012
Assim...
Ela ainda era determinada, ela ainda era esperta, ela ainda amava. Já tentou mudar, mas isso nunca acontecia de forma efetiva. No máximo ela se aperfeiçoava ou então se reinventava. Mas ela, aquela ela, essência pura, sempre esteve ali, naquele peito, mantendo o seu ritmo de sempre. Por sorte, ela ainda mantinha o mesmo coração, e assim, mesmo que achasse o contrário, sabia quem era e o porque chegara até ali.
domingo, 11 de março de 2012
Liberte-se
Simplesmente deixe ir... Já dizem que o que é seu volta, por isso não prenda nada a você... Deixe simplesmente algo ir quando ele bem entender. Respeite a liberdade que o outro necessita, da mesma forma respeite a sua liberdade, e simplesmente deixe ir. Sem mágoas, sem choro, sem dor...
Não creia que a liberdade tem apenas a função de levar alguém para longe, ela muitas vezes trás alguém para mais perto ainda. A liberdade tem o poder de abrir os olhos, de mostrar ao coração qual é o melhor caminho, de mostrar quais os sentimentos que permanecem.
Não queira que alguém seja somente seu, que fique só do seu lado, que tenha olhos só para você. Isso é impossível! Somos seres dotados de um desejo de liberdade que nos consome, e quanto mais nos sentimos preso, mais desejamos a liberdade.
Temos por natureza um instinto de procurar e desejar essa liberdade. E se ela nos é negada, damos um jeitinho de tê-la e para isso usamos de todos os artifícios, que nem sempre são os melhores a serem aplicados e muitos desses ferem o outro, e então a história toda ganha um peso, uma dor, uma mágoa.
Por isso não prenda ninguém e nem se prenda. Siga o seu ritmo. Respeite a vida alheia. Respeite o passado de quem se aproxima de você e não queira que o mesmo seja apagado. Entenda que temos uma história e que sempre lembraremos fatos e pessoas, e não há nada que apague isso. No máximo se omite, mas nunca se apaga.
Respeite quem está do seu lado, respeite aqueles que se aproximam de você, respeite quem eles são, o que se tornaram e lhes dê sempre a liberdade de ir. Porque se simplesmente decidirem ficar, será por sua livre vontade, e então nada os fará ir embora e então se ganha uma parceria, a vida se torna leve e isso então vira uma história boa de contar.
domingo, 15 de janeiro de 2012
Francamente
Tentarei ser o mais simples que posso, por mais que simplicidade nunca tenha sido o meu forte, ainda mais escrevendo. Mas o que quero deixar claro, o que pretendo aqui colocar, é algo que não consigo simplesmente dizer, justo eu que gosto tanto das palavras. Elas até teimam em rolar pelos meus lábios e entregar meu coração, mas eu sempre calo. Eu apenas não consigo dizer, e justo isso que eu deveria fazer: dizer tudo o que me consome a alma e que me aperta o coração.
Minhas ações nem sempre (posso até arriscar a dizer que nunca) condizem com as minhas emoções: eu faço o que não penso e o que eu penso eu não faço... É sou assim mesmo, mas eu deveria ser ao contrário. No fundo, sempre tive medo de muita coisa, mas aprendi a me portar como se esses medos não existissem e assim eles permearam e se confundiram com as minhas ações. Eles mascararam quem eu realmente sou, o que eu quero e desde então passei a achar divertido complicar, bater de frente, fazer o contrário do que as pessoas esperam de mim...
O porquê de estar aqui escrevendo desse jeito, é que toda vez que escrevo é meu coração que parece comandar as minhas mãos e assim ele diz tudo que minha boca não consegue. E o que eles querem dizer hoje é que sinto muito a sua falta, que não consigo me concentrar em mais nada quando você está por perto, que adoro teu sorriso e adoro o homem no qual você se transformou, que me sinto bem quando você simplesmente está por perto, que acho lindo quando você perde a paciência, quando você divide seus planos e coisas que você nunca fez na vida e que tem vontade, e de como eu me encanto quando você simplesmente me olha... Acho que esse é o único momento em que sou sincera, porque meu sorriso, esse é a única reação sobre a qual eu não tenho controle... Você tem idéia do quanto é difícil manter um equilíbrio e uma postura do tipo “não sinto nada” quando você está por perto? Você tem idéia do quanto é difícil enxergar seus olhos olhando para outra direção?
Essa minha postura, que até então eu via como equilíbrio, não passava de indiferença, na realidade uma falsa-indiferença... Porque tudo que eu fazia, eu desejava fazer ao contrário... As palavras que você me dizia eu sempre queria dizer mais, mas para simplesmente não perder um falso-controle que eu acreditava possuir, eu calava e não as dizia...
Mas eu ainda me pergunto: porque você simplesmente não tomou uma atitude e me deixou agir assim, porque você não me provou que realmente não é mais um moleque? Porque você simplesmente não puxou a corda? (rs)
Hoje eu entendo como olhar para alguém e sentir seu coração querer saltar pela boca e essa pessoa te tratar com indiferença dói! Dói mesmo! Se eu fiz isso ( e eu fiz) agora recebo uma lição daquelas que com certeza eu nunca vou esquecer...
E desde que eu me dei conta disso eu fico pensando em como reverter isso. Não tiro a razão da sua postura, mas eu já dei o braço a torcer, mexi com meus fantasmas, tentei ao máximo mudar minha postura sem sentir que perdia minha essência, só para você entender que eu já aprendi a lição, que eu quero ser uma pessoa melhor, desde que eu possa contar com seu carinho...
Mas se o encanto já se perdeu, eu não me frustro. Eu continuo na minha jornada, com o coração partido talvez, mas eu sigo... Eu sei que, assim como já aconteceu tantas vezes que perdi a conta, uma hora você volta... Só espero que volte no momento certo, porque afinal seria um desperdício perder assim tanto tempo até um novo encontro acontecer...
(Cíntia Synderski)
*Me desculpem pelo desabafo, mas como o texto diz eu sou mais sincera quando escrevo. =D
domingo, 25 de dezembro de 2011
Sem parar
Eu não sei ao certo, mas acho que nunca sei o que quero... Me divirto com o improvável e me contento com o simples, mas ao mesmo tempo almejo algo grande, tenho o instinto de sempre querer mais, de ir além... de entender, de traduzir, de decifrar...
Eu sempre quero mais... e sem querer exijo demais. Me torturo assim, buscando sempre esse mais...
Deixo de acreditar no que é visível, não arrisco, nem me entrego. Fecho a cara, apresso o passo, e esqueço... do que era útil, essencial, do que estava ali...
E então eu corro, eu busco, eu procuro entender como cheguei até ali... volto a me divertir com o improvável e a me contentar com o simples, mas sempre almejo algo maior...
Ciclo vicioso... Inevitável!
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
Loucuras à parte, mas amor para toda vida
Quem nunca se viu perdido no meio de uma enxurrada de sentimentos? Quem nunca tentou se salvar de morrer sufocado pelo tanto que sentia? Amor, desejo, paixão... Quando se fala de sentimentos não há muito que se explicar, às vezes não há o que dizer, não há o que escrever... Fica-se atônito diante de tanto que o coração passa, de tanto que ele leva pelo nosso corpo, de tudo que ele demonstra no nosso olhar, na nossa fala, na nossa pele...
A paixão perpassa os nossos sentidos, a nossa alma. O amor nos constrói, nos arma, nos amadurece... Mas ambos nos enlouquecem...
Quem nunca perdeu o tino ou o senso de responsabilidade com uma paixão em demasia, daquelas que nos tornam qualquer pessoa, menos nós mesmas? Quem nunca amou intensamente a ponto de esquecer-se de quem se é, de perder o chão e o senso de direção?
Quem nunca se viu alucinado, fissurado num amor incontestável, palpável que nos leva ao paraíso. Quem nunca concluiu que teve como maior loucura na vida o fato de amar alguém... Quem nunca criou asas, se tornou imortal apenas por nutrir dentro de si esses sentimentos...
E quem se perdeu e enlouqueceu quando de repente esses sentimentos deixam de existir, ganham um fim nem sempre consensual... Quando essa loucura ganha força e o desespero vêm lhe fazer companhia...
Quem nunca chorou por perder um amor ou uma paixão?
A gente se debruça no travesseiro e o encharca de lágrimas, a gente revê fotos, relembra momentos, parece parar de respirar por alguns instantes... Se sente morto, incompleto, perdido... Acaba aquela vivacidade, aquela energia... A gente pára, repensa, espera o tempo passar...
E então se levanta. Segue. Volta a viver, mesmo com aquela sensação de estar incompleto. Mas não se preocupe. O amor, esse bandido, está pronto para nos assaltar e tomar posse do nosso coração em qualquer esquina, em qualquer novo sorriso ou qualquer velho abraço. E toda essa loucura volta a acontecer, essa intensidade nos toma o corpo e a gente volta a desejar que ela dure para sempre...
(Mais uma sugestão de tema que deu certo, ou quase... )
domingo, 27 de novembro de 2011
(Des)equilíbrio
Gente certinha demais sempre me incomodou... Sabe, gente que tem todas as respostas, que parece nunca errar, que sempre está bem, que sabe o que dizer...
Para ser mais sincera gente certinha demais sempre me deu medo... Parece que elas não vivem... Sempre tem o cabelo arrumadinho, a roupa impecável, os sapatos então são dar inveja em qualquer um...
Que são metodicamente organizadas, que nunca perdem o ônibus ou a hora, um número de telefone, não esquecem uma data sequer...
Sabe, tenho a sensação de que elas nunca derramaram molho de tomate na camiseta branca enquanto comiam macarrão, de que nunca tropeçaram no meio da rua e morreram de vergonha...
Parece que nunca tomaram um porre, que nunca choraram no ombro da primeira pessoa que lhes abraçou quando estavam sufocados por qualquer tristeza... Na verdade até desconfio se algum dia sentiram agonia ou tristeza...
Tenho medo de gente certinha que não sabe rir de si mesmo... Não acredito em gente que não arrisca roubar um beijo ou roubar uma flor de qualquer jardim para agradar alguém.... De quem nunca teve medo de escuro, que nunca teve insônia e que nunca tentou a sorte na loteria...
Tenho medo de quem não chora na frente dos outros, tenho medo de quem nem sequer chora escondido... Tenho medo de gente que vive um dia perfeito todo dia, como se não houvesse cobrança, dívidas, pressão ou TPM... Tenho medo de gente que não explode, que não xinga, que nunca perdeu as estribeiras...
Tenho medo ( e desconfio eternamente) de quem não sabe olhar nos olhos, mas tem o discurso decorado para todos os momentos, como se entendessem como você se sente. Tenho medo de gente que nunca sofreu por uma amor ou teve uma paixonite aguda... Desconfio de gente que nunca levou um fora ou levou um chifre...
Mas como alguém pode lhe dizer o que fazer se ela mesma parece nunca ter sentido algo parecido? Como ela pode te ajudar quando parece que ela mesma não sabe o que fala? Pra que serve um discurso perfeito se falta o sentimento, a vivência....
Alguns podem dizer que tenho aversão (ou até inveja) de gente que é vista como equilibrada... Mas como alguém pode ser equilibrada se viver é um eterno desequilíbrio?
Desculpa, mas pra mim a vida não é um caminho reto... ele é tortuoso, cheio de curvas, pontes mal cuidadas... Caminho no qual nós tropeçamos e caímos, mas que às vezes também nos proporciona trechos de caminhada suave, sem nenhum transtorno...
Por isso tenho tanto medo de gente equilibrada, certinha ao extremo! Como elas podem saber o que dizer a alguém desequilibrada como eu? Ou melhor, como elas podem no seu equilíbrio e perfeição extrema, entender a minha imperfeição e meu eterno desequilíbrio?
* Gente eu voltei!!! (Todas vibra...\o/... hahaha) Logo mais texto... =D
domingo, 11 de setembro de 2011
O Criador de Si
Naquele dia ele desceu as escadas lentamente, meio desconfiado, mas sabia o que ia buscar. E naturalmente ele se trajava mau, mas naquele dia não… não naquele dia.
Desceu as escadas, fumando e com uma xícara fumegante de café puro preto com pouco açúcar. Dizia que o açúcar o deixava agitado. Algumas pessoas diziam que era por conta das incontáveis doses de café durante todo o dia. Mas ele insistia... era o açúcar.
Pegou o jornal, olhou em volta, deu uma última tragada, tomou de um único gole o resto do café e voltou correndo pelas escadas. Fechou a porta rapidamente, trancou-a, encostou-se nela de costas e, num suspiro de alívio, começou a rir. Reclinou-se até o chão, sentou com as pernas bem juntas, com os joelhos à altura dos olhos e começou a chorar.
As horas avançavam. O dia acontecia fora das paredes da sua casa, mas ele não podia sair. Não queria, na verdade. E ficava em casa, vagando de um cômodo para outro, verificando se as janelas estavam bem trancadas, se as cortinas deixavam espaço para que alguém, lá fora, verificasse o seu interior.
Abriu o jornal pacificamente. Antes, embebeu um pano velho em álcool, passou por todo o plástico que protegia o jornal e, de luvas, retirou o saco. Com a mesma rapidez que se moveu até o lixo, arrancou as luvas pelo avesso, embolou-as e atirou na churrasqueira que ardia em brasa.
O jornal era do dia anterior, mas pra ele não era um problema. Já não sabia que dia da semana estava, sequer sabia o dia do mês. Quando abriu, viu a imagem de guerras, bombas explodindo, pessoas atirando e a manchete em letras garrafais dizendo que, o Oriente Médio estava pondo-se em pé para guerras e batalhas contra os Estados Unidos. Logicamente não nestas palavras, porém a idéia que ele teve fora exatamente esta. De que o Oriente Médio estava pronto para agir.
Estava ansioso para ver qual seria a manchete do próximo dia, se de fato a guerra eclodiu ou não. Sentava-se contraído na poltrona da sala escura, roçava as mãos nas pernas impacientemente, verificava a todo instante a movimentação na rua pelo olho-mágico da porta de entrada. A cada passo verificava as janelas e as cortinas. Alguém vai entrar, alguém vai entrar. Alguém vai entrar e acabar com tudo. Desta vez vai acabar com tudo. Alguém vai entrar. Pensava ele, sussurrando meias palavras, mexendo debilmente os lábios, andando de um lado para o outro da sala, fumando o seu cigarro.
O café esfriava na xícara e ele tomava-o de goles rápidos, enxendo a boca e engolindo sem sequer saborear o café requentado. O cheiro de café e cigarro pela casa espalhava-se numa mansidão tão contrária à agitação do rapaz.
Olhou pelo olho-mágico novamente. Viu alguém atravessando a rua para caminhar pela calçada do seu lado da rua. Ficou apavorado. É agora, é agora. Estão vindo. É agora. E o que eu faço agora? Oh céus, e agora? Acendeu outro cigarro, fumou abstinadamente como se seu filho estivesse nascendo naquele momento. Correu para o quarto no segundo andar. Pelas escadas, tropeços e tombos eram corriqueiros. As canelas já marcavam várias manchas roxas pelas batidas. Correu para o quarto, trancou a porta, empurrou a cama em frente à porta e começou a gritar.
De repente silêncio. Respiração ofegante, coração acelerado, suor frio, cigarros e mais cigarros. Ouviu a porta da sala se abrir vagarosamente. Seu coração parou por um segundo e voltou a bater com a força de um machado partindo cavacos e toras. Passos. Passos pela sala. Imaginou se a pessoa que entrava tinha, pelo menos, limpado os sapatos. Limpara a casa pela manhã e não iria ficar nada contente se estivesse com sapatos sujos.
Os passos avançavam vacilantes como passos à procura de algo. Passos que não sabe exatamente pra onde vão, mas que seguem à frente. E ele no quarto, desesperado, tendo a sensação de estar sendo vítima de uma parada cardíaca. Imaginou que, se tivesse um aneurisma, ele certamente explodiria seu cérebro naquele momento.
Ele está subindo, está subindo, e agora, meu deus, o que faço? Ele está subindo. Afinal, quem deverá ser, meu santo? Está vindo e eu sei que desta vez fará o que tem de fazer. Ele irá me matar. E está vindo, está subindo as escadas. Pensava e gemia enquanto ouvia os passos subirem as escadas ainda muito calmamente.
Estava tendo uma reação de extrema descarga de adrenalina. Já não conseguia conter seus pensamentos, a respiração cada vez mais acelerada, cada vez mais apressada, cada vez mais curta. Começava a faltar oxigêncio em seu sangue que irrigava o cérebro com um possível aneurisma. Tontura, vertigem, sensação de desmaio, sentia de tudo naquele momento. E os passos avançavam.
Começou a ficar com cada vez mais medo daqueles passos desconhecidos. E eles vinham em sua direção enquanto ele dava um passo pra trás cada vez que ouvia o sujeito dar um passo à frente. Decidiu. Ainda desesperado e ansioso, mas a decisão fora tomada.
Os passos vinham pelo corredor e ele cada vez mais amedrontado. Será que irá conseguir empurrar a cama? Mas a porta está trancada, terá que arrombá-la. E empurrou também o seu armário velho de bugigangas prensando a cama contra a porta.
Apressou-se em pegar caneta e papel e começou a escrever. Relatou o ocorrido, com detalhes minuciosos e os motivos de tudo que aconteceu. Escreveu também à mãe, ao pai, aos dois amigos que sempre o socorriam com dinheiro e comida e à vizinha que pagava o gás. Escreveu sobre as pessoas que andavam rondando sua casa e do porquê o rondavam. E despediu-se brevemente, sem rodeios, nem afetos, apenas se despediu.
Os passos continuavam em direção ao quarto enquanto ele terminava de rabiscar as folhas e de repente parou. Ouviu-se pássaros alçarem vôo, cães latirem e o silêncio cósmico na penumbra do quarto. Os passos não voltaram, não seguiram em frente, apenas cessaram com o disparo da arma. Não pararam porque o medo os invadiu; pararam porque seu inventor sumiu. Pararam porque já não tinham para onde ir, nem a quem buscar. Já não havia mais quarto, porta ou alguém a quem invadir.
Surgiram do além e esvaiu-se com a mesma rapidez que a vida se esvanesceu naquele quarto. Ele perseguia a ele mesmo. Ele inventava, ele criava e convencia-se de que não eram invenções, tampouco criações dele mesmo. Era pessoas reais, na sua realidade. Eram pessoas que o cercavam, que o rondavam, que o perseguiam. Mas tudo acontecia apenas no seu micro-mundo de forma que, das janelas, não se via o além-mar. E a luz do dia já não era vista, senão quando ele saia pra buscar o jornal que agora irá se acumular por dias nas escadas da sua casa. E a sua casa não será aberta, não terá ninguém que a vigie, tampouco alguém que escore as portas com cimento e tijolos. Não haverá mais ninguém.
Naquele dia ele sabia o que estava por vir. Sabia que a guerra do Oriente Médio iria eclodir e sabia que seria declarada por ele próprio. Aliás, nem sabia, ou não queria lembrar, mas a guerra havia sido declarada há muito, muito tempo atrás. Contra ele mesmo. E sabia que naquele dia ele precisaria estar bem trajado, bem apresentável, de forma respeitosa e elegante, para que, no mínimo, pudesse causar uma boa impressão. Uma boa impressão seja lá pra quem for. Embora soubesse quem iria vir buscá-lo mais tarde.
Daquele momento em diante, toda a névoa de perseguição que pairava sobre ele também sumiu com o tiro. A vida escoou e não houve tempo para represá-la. Não houve sequer tentativas de reparos. O tiro foi a redenção. Antes tomado pelas próprias mãos a ser tomado pelas mãos do outro. Mas era um outro que era sua própria extensão. Uma extensão inexistente. Mas um inexistente que existia, decerto.
E tudo acabou naquele momento. No momento do disparo. No momento que o cão latia sem saber porque. No mesmo momento que o pássaro assustado voou para longe. No mesmo momento que os passos voltaram para a velha e pequena caixa de surpresas.
(Mateus Guedes)