domingo, 11 de setembro de 2011

Incompletude

De repente era um vazio. Era dolorido. Todas as suas idéias, planos, sonhos simplesmente perderam o sentido. Havia perdido as forças. Havia perdido a coragem. Olhava no espelho e questionava quem era aquele reflexo, que não tinha mais vida. Buscava entender algo que não sabia, procurava por algo que talvez nunca existisse, desejava algo que talvez nunca possuísse. E assim se perdia pelos espaços, tropeçava na sua própria dor, dia após dia...

Às vezes algo ameaçava lhe trazer de volta o sorriso, mas já não era tão fácil de convencê-la de que era possível sorrir, de que a felicidade ainda existia. Era difícil entender que ainda havia alguma possibilidade, em algum lugar, em algum momento. De que ainda havia uma saída.

Tudo era frio e sombrio demais. Tinha a sensação de que todos a olhavam com raiva ou com desconforto, como se fosse qualquer pessoa. E por dentro apenas gritava: Sou eu! De alguma forma eu ainda estou aqui...

Esperava que alguém escutasse seu lamento, sentisse sua dor e então a resgatasse desse frio e sombrio mundo em que vivia. Implorava em silêncio por ajuda, porque não suportava mais. Mas para lhe entender era preciso olhar nos seus olhos e estender a mão. Era apenas lhe dar carinho e assim então, desfazer a muralha na qual se transformara.

E quantos passaram, quantos a olharam? Quantos a acolheram, quantos a amaram? Quem se atreveria a entender aquela então muralha, dona de si mesmo, que parecia mandar e desmandar em seu próprio mundo? Quem se atreveria a dizer que aquela que raramente esboçava um sorriso sincero, tinha seu coração e sua alma desfeita em milhares de pedaços? Esperava por quem a trouxesse de volta. Alguém que a abraçasse e não dissesse mais nada. Apenas a abraçasse.

(Cíntia Synderski, com título de Mateus Guedes.)

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