Eram tantas palavras e sentimentos, tanto para dizer, mas nem sabia como começar... Olhava aquele papel em branco insinuante, provocante e dolorido. “Como e o que escrever”, se perguntava e ao mesmo tempo sentia que precisava colocar naquele papel as suas queixas, o que lhe apertava o coração (e o estômago) para assim se sentir mais leve, mais tranqüila, quem sabe até mais segura...
Talvez fosse mais simples do que ela imaginava, mas as palavras lhe faltavam, sumiam, e ela apenas olhava aquele papel, que junto com seu coração, pedia que as letras revelassem os seus sentimentos...
Como o simples fato de querer dizer que adora as manhãs de sol, em pleno inverno, que deixam o dia mais alegre...
Queria dizer:
... que adora olhar a lua cheia por horas e vagar por seus pensamentos;
... que chora quando vê alguns filmes ou escuta algumas canções;
... que não superou seus medos, nem largou o jeito quase infantil de demonstrá-los;
... que ainda olha as mesmas fotos só para lembrar-se de alguém;
... sobre os seus dias, sobre seus medos, sobre o que a detém;
... que um sorriso basta para que o dia mude.
Queria dizer todos os gritos do seu coração solitário, mas o silêncio do seu corpo era mais forte, bem mais forte! Ao ponto de complicar o simples e amar o complicado.
De como queria se jogar e te abraçar sem medo, sem pudor... De como queria te segurar pela mão quando você se sente triste e sozinho... ou ainda estar todos os dias ao seu lado, compartilhando os medos, os momentos de ócio, os segredos, a descoberta do outro... Apenas queria olhá-lo pelas manhãs e contemplar o seu sono e rir inocentemente da forma como você dorme...
Queria fazer planos...
De como deseja que você apenas a olhe...
De como deseja que você a perdoe pelo seu modo inconstante de ser ou pelo seu modo insuficiente de ser para você...
Que a perdoe pelo seu modo de te sufocar com medo de te perder, de sufocá-lo por medo de dizer que apenas o quer ali do lado.
Como queria dizer que você a faz sentir que ainda há vida dentro do seu coração e de agradecer por mostrar que ela pode mais que imagina...
Mas ela ainda tem medo de parecer idiota ou de perder o pouco que tem... Ou esse pouco pode ser muito? Muito que ela não enxerga sem você, está na alma dela, na sua essência, que precisa apenas abrir os olhos, pois assim abriria o coração.
Talvez ela ache que você ainda tenha que aprender algumas coisas, talvez crescer um pouco mais. Ou talvez o problema seja ela, que talvez precise perder o medo e se entregar sem pensar nas conseqüências que um “te quero” pode causar, sejam elas boas... Ou ruins. Quem sabe deveria pensar que juntos se pode compreender e amar, superar todas as dores e tampar todas as feridas, e assim olhar para trás e saber que o medo foi superado e que a partir de agora isso será encarado a dois.
E talvez aquele empecilho - de não saber como começar o texto – seja apenas uma maneira de ter a certeza de como vai terminar.
(Cíntia Synderski com pitacos de Lucas Botta)
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